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Transformadores
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Donatella de Figueiredo Lipka
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Postado:
Fonte:
28/01/23
Somos Diversidade
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Estudo design de moda, o curso está trancado no momento. Estou trabalhando como vendedora. Eu já trabalhei como balconista, auxiliar de cabeleireiro e atendente de callcenter. Quando trabalhava na padaria eu fazia o curso de cabeleireiro pois achava que era uma área que não encontraria tanto preconceito por sempre ver profissionais lgbtqia+. Achava que era o único trabalho possível pra mim. Mas acabou que não fui acolhida, descobri que pessoas trans muitas vezes não são bem vistas nem mesmo dentro desse universo. Mas a pior experiência foi com Callcenter, trabalhei na btcc de Curitiba.
Tratam os funcionários como lixo, como coisas substituíveis e se alguém se opuser ao que eles julgam correto que peça demissão. Tem um grande público lgbtqia+ em callcenters, essa acaba sendo a nossa única opção com carteira registrada e muitos, como eu, se submetem a humilhações nesses empregos pois a outra opção seria a prostituição. Em todos os empregos sofri transfobia, piadas, risadinhas, pronome errado, tudo isso. Mas também conheci muitas pessoas bacanas, colegas trabalhos que fizeram ficar mais fácil.
Quais as maiores conquistas e os maiores desafios em sua vida/carreira?
A maior conquista até agora foi ser contratada para atender o público em um shopping. Geralmente nós nunca “temos o perfil” desejado para trabalhar numa loja por exemplo. Sempre quis trabalhar em um shopping e achei que isso nunca aconteceria. Realizei esse desejo através da transempregos e Zazulê. As dificuldades são várias, mas acho que o mais difícil é quando empresas/pessoas se negam a usar o nome certo e nós tratam no pronome errado. Isso me incomodava muito, tanto que pedi demissão e decidi só procurar outro emprego após retificar todos os documentos, o que fiz agora em setembro e foi uma grande conquista e me deu muita confiança. Outro ponto importante é o uso de banheiros, fico com muito receio de passar por alguma situação constrangedora, geralmente quando saio pra trabalhar ou passear evito beber água, mesmo estando com sede, para não precisar usar o banheiro.
Ser uma pessoa trans foi dificultador ou não teve importância nesta sua trajetória?
Dificultou e muito. Nós nunca “temos o perfil” ou a vaga “já foi preenchida” e nós sabemos bem o porquê.
Para as pessoas e profissionais trans, que recado você deixaria?
Você tem valor. Você é capaz. Você consegue. Não importa se passou por 10, 20 ou 30 entrevistas de emprego e foi mal tratada. Não aceite ser humilhada, você deve ser respeitada. Não são eles que não nos querem lá, SOMOS NÓS QUE NÃO QUEREMOS ESTAR LÁ.
Para a sociedade, qual recado você deixaria?
Eu sou uma pessoa como outra qualquer.
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