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Notícia
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Conheça Maite Schneider - que faz consultoria de gênero da novela Renascer
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Postado:
Fonte:
29/08/24
Somos Diversidade
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A Novela Renascer, exibida pela Rede Globo, entra em sua fase final de exibição e trouxe vários marcos históricos em seu remake, feito por Bruno Luperi – neto do veterano escritor Benedito Ruy Barbosa e filho da também roteirista Edmara Barbosa.
Em entrevista à CNN, o autor opinou sobre quais limites podem ser explorados no remake de uma história. “Eu acho que não tem muito limite, na verdade, são várias maneiras de fazer uma adaptação”. “Eu tento olhar para aquela história que aconteceu 30 anos atrás, ver o resultado que ela teve e qual espaço afetivo ela ocupa na vida das pessoas”, explicou Bruno Luperi.
Entre as adaptações, tivemos o Padre Lívio, um dos personagens mais marcantes da antiga trama, pelo Pastor Lívio, interpretado por Breno da Matta.
No folhetim original de Benedito Ruy Barbosa, Zinha (Samantha Jones) não existia. O personagem era um homem chamado Zinho e vivido por Cosme dos Santos. O rapaz também era o braço direito de João Pedro e culpava José Augusto pela morte de seu pai. Na história atual, Zinha tem o mesmo sentimento de ódio pelo primogênito de José Inocêncio, mas também lida com questões relacionadas à sexualidade.
Na primeira versão de Renascer, Buba era uma personagem intersexo. Na história que foi ao ar há mais de 30 anos, ela era chamada de hermafrodita, mas essa palavra não é mais utilizada atualmente. Em 1993, a personagem foi vivida por Maria Luisa Mendonça, uma mulher cis. Hoje, Buba é transexual e é interpretada por Gabriela Medeiros, atriz que se identifica como tal. Buba nesta nova versão também ganhou um grupo de suporte de amigas incríveis feita pelas atrizes Gabriela Loran, Galba Gogóia e o Bianca DellaFancy interpretando respectivamente Maitê, Natascha e Janaína,
No Remake, Teca, papel lindamente feito pela atriz Livia Silva, teve várias mudanças em sua trajetória, dando luz inclusive a Cacau – um bebê intersexo. A ABRAI – Associação Brasileira Intersexo foi apresentada ao público telespectador através de Buba (Gabriela Medeiros) e José Augusto (Renan Monteiro)
Outro grande acerto neste remake, foi a participação especial de Maite Schneider, uma das maiores referências sobre estudos de sexualidade no Brasil, como consultora especializada em assuntos de gênero pela emissora.
Conversamos com Maite, para saber um pouco sobre esta experiência e trazermos aqui para o público da Somos Diversidade
COMO ACONTECEU O CONVITE PARA ESTE TRABALHO EM RENASCER?
Bruno me chamou para uma conversa pessoalmente e foi meu primeiro contato com ele. Fomos tomar um café delicioso, no dia 26 de janeiro de 2023. Um longo café de horas e horas. Junto comigo estava meu amigo – o publicitário Augusto Rodrigues, que também é uma pessoa trans. Junto com Bruno estava o querido e talentoso Gabriel Tonelli , que também é consultor na novela Renascer e já tinha trabalhado com Bruno em outros trabalhos.
Este foi o start. Conversamos muito. Muitas trocas, falei das minhas visões, enviei diversos vídeos pessoais e de outras histórias e referências e em agosto de 2023 surgiu o convite especial para desenvolver este trabalho que estou amando.
VOCÊ JÁ TINHA DESENVOLVIDO TRABALHOS COMO ESTE?
Como este propriamente dito, é a primeira vez, mas já fiz muitas preparações tanto de elencos, quanto de equipes para TV, filmes, séries e projetos artísticos e realmente amo muito, pois minha primeira formação é como Bacharel em Artes Cênicas e também em direção teatral. As artes me salvaram e me mantém viva. Para uma mulher transexual, prestes a completar 53 anos, viver de artes e trabalhar com elas, é a chance de acreditar que tudo pode ser possível, mesmo que ainda não para todas as pessoas trans na vida real, infelizmente.
QUE CURIOSIDADES E DIFICULDADES ENCONTROU?
No início pude ter acesso e ler os “textos barro” (nome dado para os originais da obra) de Benedito Ruy Barbosa. Foi incrível conhecer a escrita de 30 anos atrás deste grande gênio. Também acompanhar de perto o modo de pensar, adaptar e criar do talentoso Bruno Luperi, que é um apaixonado, não somente pelo trabalho do avô, mas pela dramaturgia de qualidade. Bruno escreve e se entrega de alma.
Sou escorpiana com ascendente e lua em escorpião e amo desafios nunca vividos, principalmente quando são revolucionários como este que fui convidada.
Uma novela é um algo intenso demais em sua construção. Eu não tinha ideia da velocidade do processo. É algo assustador, mas muito empolgante. Adrenalina pura.
O mais complexo para mim eram as questões de horários, pois não havia. Como eu disse, tudo acontece de modo aleatório e muito rápido. A novela é um organismo vivo e que muda também conforme a vida das pessoas telespectadoras que assistem. É incrível esta vida pulsante que uma novela traz em sua construção.
Também fiquei muito feliz com o presente surpresa que recebi do diretor Bruno Luperi, colocando uma carinhosa homenagem para mim, batizando de Maite, a uma das amigas de Buba, e que foi lindamente feito pela atriz Gabriela Loran. A dramaturgia imitando a vida real. Sou como Gabi, muito amiga e presente com minhas amizades. Lindo de ver e sentir.
QUAL A IMPORTÂNCIA DESTE TIPO DE TRABALHO EM SUA OPINIÃO?
O trabalho de consultoria é fundamental, ao meu ver. No caso de Renascer além de mim, estavam Dayana Andrade, Felipe Pasini e Cesar Belieny. Na pesquisa de texto, além do Gabriel, tínhamos Lucas Ohara e Zilda Raggio. Também várias pessoas envolvidas nas temáticas abordadas são consultadas durante todo o processo e em vários momentos, para aprofundamento das questões.
Tantos olhares plurais aumentam a riqueza do trabalho entregue e para o amadurecimento da trama.
Eu cresci como pessoa com estas múltiplas trocas. E isto também é refletido na construção do meu papel para o qual fui contratada.
AS MUDANÇAS TRAZIDAS TROUXERAM MUITAS CRÍTICAS? COMO LIDOU COM ELAS?
Quando você tem um projeto aberto e com abrangência tão ampla como uma novela das 21, já era algo esperado. Não vejo críticas como algo ruim ou danoso. É muito importante saber do sentir e das percepções de quem assiste e acompanha. E tudo é levado em consideração, analisado e acrescentado, quando possível.
A que causou mais polêmica, foi da personagem Buba não ter continuado uma pessoa intersexo (na época da novela em 1993, era hermafrodita)
Até neste ponto, para mim, tivemos uma evolução. Primeiro que na novela original, a personagem foi feita por uma atriz cisgênera. Nesta, além de trazer uma atriz transexual no papel, pudemos trazer à tona a questão da pessoa intersexo, junto com um bebê (Cacau, bebê de Teca). Foi um ganho para podermos trazer questões ainda pouco pensadas e refletidas pela grande população. Falamos da importância da ABRAI – Associação Brasileira Intersexo e de como podemos ser, de fato, mais inclusivos.
Numa outra novela, quem sabe, podemos ter uma Buba sendo travesti, até um dia, estes personagens serem somente humanos e tendo suas especificidades como parte integrante, não sendo a única questão a ser abordada, como conseguimos com o trabalho brilhante de Gabriela Medeiros (Buba)
A diversidade é maior igualdade que temos como humanidade. E é assim que vejo todos os processos pelos quais esta versão está seguindo.
O QUE PODE NOS CONTAR DE NOVIDADES NESTA RETA FINAL DE RENASCER?
Que não percam nenhum capítulo, pois teremos MUITAS reviravoltas incríveis e espetaculares. As surpresas irão continuar, incluindo o final de várias personagens. Será muito especial e inesquecível.
E pronto, não posso falar mais nada (risos). Se quiserem saber mais, chamem para a entrevista o super Bruno Luperi, mas acho que nem ele sabe ainda (será?!)
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